A Humanidade
“O
que é porém o homem? Ele emitiu e ainda emite muitas opiniões a respeito de si
mesmo, variadas e contrarias entre si. Numas muitas vezes se exalta como norma
absoluta. Noutras deprime-se até o desespero.” (Gaudium et Spes; Const. Past. n. 12)
As Sagradas Escrituras revelam
que “Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança’. E Deus criou o
homem; à imagem de Deus ele o criou; homem e mulher. E Deus viu tudo o que
havia feito, e tudo era muito bom.” (Gn 1,26-27,31). Embora não se pense o
bastante no ser humano, percebe-se a sua grandeza e a sua pequenez nestas
passagens da Escritura. O homem embora feito do pó da terra recebe do amor de
Deus, a graça de ser criado à sua imagem e semelhança, de ser feito “um pouco
inferior a um ser divino, e coroado de glória e honra” (Sl 8, 6). Esta é a sua grandeza
ser imagem de Deus, ser o visível do invisível. Mas apesar de ter sido feito
semelhante a Ele continua sendo uma de suas criaturas, é ainda pó e disto não
pode esquecer “por isto lembra-te que és pó e ao pó ás de voltar” (Gn 3,19). No fim de sua criação Deus afirma que
tudo “que criou era muito bom” (Gn 1,31), de fato as criaturas são belas e
boas, mas “porque Ele é belo, elas são belas; porque Ele é bom, elas são boas;
porque Ele existe, elas existem. Não são tão formosas, nem tão boas, nem
existem do mesmo modo que, seu Criador. Comparados, nem são belas nem são boas
nem existem.” (Agostinho de Hipona;
Confissões, Livro, XI; cap. IV)
O
homem é o tesouro de Deus, pois, para ele criou tudo, “para que ele domine os
peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os
répteis que rastejam sobre a terra.” (Gn 1, 26) deu-lhe consciência,
inteligência, emoções. Deus o criou não por interesse, mas por que devido ser
Ele o puro amor, (Deus é amor- 1Jo 4,8) o fez para amá-lo e ser amado, e o
“amou tanto afim de dar seu filho único” (Jo 3,16) para redimi-lo do terrível
pecado. É por conta desta preferência de Deus pelo o homem que podemos nos
indagar: “O que o é homem, para que te lembres dele, e o ser humano, para que
dele te ocupes?”(Sl 8, 4)“Ele é a grande e admirável figura viva, mais precioso
aos olhos de Deus do que toda a criação: é para ele que existem o céu e a terra
e o mar e a totalidade da criação, e é a salvação dele que Deus atribuiu tanta
importância que nem sequer poupou seu Filho único em seu favor. Pois Deus não
cessou de tudo empreender para fazer o homem subir até ele e fazê-lo sentar-se
à sua direita” (Catecismo da Igreja
Católica; §358)
O Pecado
O
relato do livro do Genesis nos mostra a desobediência do primeiro casal, quando
este ouvindo a voz da serpente comeu o fruto da arvore a qual Deus lhe tinha
proibido comer, fazendo com que a desgraça do pecado e da morte entrasse no
mundo, porque “tendo voltado da
contemplação de Deus para o mal que eles próprios inventaram, caíram
inevitavelmente sob a lei da morte. Em vez de permanecerem no estado em que
Deus os havia criado, entraram em um
processo de uma
completa degeneração e a morte
os tomou inteiramente
sob o seu
domínio” (Atanásio; A criação e a
queda). E por esta desobediência toda a humanidade foi afetada, tornando-se
pecadora. Mas “de que maneira o pecado de Adão se tornou o pecado de todos os
seus descendentes? O gênero humano inteiro é em Adão como um só corpo de um só
homem.”( Catecismo da Igreja Católica,
§40) “Neste pecado, o homem preferiu a si mesmo a Deus, e com isso
menosprezou a Deus: optou por si mesmo contra Deus, contrariando as exigências
de seu estado de criatura e consequentemente de seu próprio bem. Constituído em
um estado de santidade, o homem estava destinado a ser ‘divinizado’ por Deus na
glória. Pela sedução do diabo, quis ser como Deus (Gn 3,5), mas sem Deus, e
antepondo-se a Deus, e não segundo Deus.”( Máximo,
confessor; Ambiguorum liber., PG 91, 115bC; §398) Uma criança que sofre um
corte profundo, e por toda a sua vida carrega a cicatriz daquele triste fato,
assim, o primeiro o homem pecou, e toda a humanidade traz em si esta terrível
cicatriz. Por isso “o pecado diminuiu o próprio homem impedindo-o de conseguir
a plenitude.”(Gaudium et Spes; Const. Past. n. 13)
Esta
tentação de quere ser como Deus o homem carregou por toda a sua historia, de
fato “a tentação de substituir-se a Deus como decisão autônoma que prescinde
das leis morais e leva o homem moderno ao risco de reduzir a terra a um
deserto, a pessoa a um autômato, a convivência humana a uma coletivização
planificada, introduzindo não raro a morte lá onde Deus quer vida.” (Radio mensagem, João Paulo I; 27/08/1978
)
“A
realidade do pecado só se entende à luz da revelação divina. Somos tentados a
explica-lo unicamente como uma falta de crescimento, como uma fraqueza
psicológica, um erro etc. Somente à luz do desígnio de Deus sobre o homem
compreende-se que o pecado é um abuso da liberdade que Deus dá às pessoas
criadas para que possam amá-lo e amar-se mutuamente”(Catecismo da Igreja Católica, §386), “somente tendo como fundo a
relação instaurada com Deus mediante a fé torna-se compreensível a realidade do
pecado. À luz dessa relação podemos, pois, desenvolver e aprofundar esta
compreensão. Não se pode apresentar a verdade sobre o pecado original a não ser
voltando ao ‘princípio’. Em certo sentido também o pecado atual, se torna
plenamente compreensível em referencia a esse pecado do primeiro homem” (João Paulo II Pp, catequese de 29/10/1986,
n. 2).
O
fato é que, “o pecado não existe nele mesmo. O que existem são pessoas
pecadoras, que alimentam estruturas de pecado. Ele não se confunde com simples
atos; mas aponta mais para atitudes que desumanizam a si próprio e aos outros.
Desvirtuando as aspirações mais profundas dos seres humanos.” (Frei Antônio Moser, OFM)
A
realidade do pecado foi adquirido pela escolha do homem, da sua escolha errada,
dado que, “no princípio, Deus criou o gênero humano racional, capaz de escolher
a verdade e praticar o bem, de modo que
não existe homem que tenha desculpa diante de Deus, pois todos foram criados
racionais e capazes
de contemplar a
verdade”. (Justino; Apologia; n.
28)
Dignidade e valor de sua vida
“Por
ser imagem de Deus, o individuo humano tem a dignidade de pessoa: ele não é
alguma coisa, mas alguém” (Catecismo da
Igreja Católica; §357) “A razão mais sublime da dignidade do homem consiste
na sua vocação à união com Deus. É desde o começo da sua existência que o homem
é convidado a dialogar com Deus: pois, se existe, é só porque, criado por Deus
por amor, é por Ele por amor constantemente conservado; nem pode viver
plenamente segundo a verdade, se não reconhecer livremente esse amor e se
entregar ao seu Criador.” (Gaudium et
Spes; Const. Past. n. 19), e este dialogo estreita-se de forma incrível
quando o homem, reconhecendo a Cristo, percebe que pelo divino Filho recebeu a
filiação divina, e que seu fim não é este mundo; porém “no mundo moderno há tendência
para reduzir o homem unicamente à dimensão horizontal”(João Paulo II, Redemptoris Missio, Carta enc. n.8), por conta disto
esquece-se que “o homem é chamado a uma plenitude de vida que se estende muita
para além de sua existência terrena, porque consiste na participação da própria
vida de Deus.” (João Paulo II, Evangelium
Vitae. Carta enc. n. 2)
“O
dom da vida que Deus Criador e Pai confiou ao homem, exige que este tome
consciência do seu valor inestimável e assuma a responsabilidade do mesmo.” (Instrução sobre o respeito à vida humana
nascente e a dignidade da procriação; Congregação para doutrina da fé,
22/02/1987, n. 1). “Ela é confiada ao homem como um tesouro que não pode
depreciar, como um talento que há-de pôr a render. Dela terá de prestar contas
ao seu Senhor.” (João Paulo II,
Evangelium Vitae. Carta enc. n.52). “Desde o momento da concepção, a vida
de todo ser humano deve ser respeitada de modo absoluto, porque o homem é, na
terra, a única criatura que Deus ‘quis em si mesma’, e a alma espiritual de
cada um dos homens é ‘imediatamente criada’ por Deus; todo o seu ser traz a
imagem do Criador.”(Instr. sobre o
respeito à vida humana nascente e a dignidade da procriação; Congr. para doutrina
da fé, 22/02/1987,n. 5)
“A cultura atual tende a propor estilos de ser
e viver contrários à natureza e dignidade do ser humano. O impacto dominante
dos ídolos do poder, da riqueza e do prazer efêmero se transformaram, acima do
valor da pessoa, em norma máxima de funcionamento e em critério decisivo na
organização social. Diante dessa realidade, anunciamos, uma vez mais, o valor
supremo de cada homem e de cada mulher. Na verdade, o Criador, ao colocar a serviço
do ser humano tudo o que foi criado, manifesta a dignidade da pessoa humana e
convida a respeitá-la (cf. Gn 1,26-30).” (Documento
de Aparecida. §387) já que “a vida humana é sagrada por que desde o seu
inicio comporta ‘a ação criadora de Deus’ e permanece para sempre em uma
relação especial com o Criador seu único fim.”(Instrução sobre o respeito à vida humana nascente e a dignidade da
procriação; Congregação para doutrina da fé, 22/02/1987, n. 5).
“A
vida humana atravessa situações de grande fragilidade, quer ao entrar no mundo,
quer quando sai do tempo para ir ancorar-se na eternidade. Na Palavra de Deus,
encontramos numerosos apelos ao cuidado e respeito pela vida, sobretudo quando
esta aparece ameaçada pela doença e pela velhice.” (João Paulo II, Evangelium Vitae. Carta enc. n.44). E é por conta
desta mesma Sacra Escritura que se é chamado, não somente a pensar ou
contemplar a vida humana, mas respeitá-la, defende-la e tomar consciência de
sua inviolabilidade e alta dignidade perante o mundo e o próprio Deus criador.
Por Bruno Rodrigues de Sales
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