sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Do Homem


A Humanidade
“O que é porém o homem? Ele emitiu e ainda emite muitas opiniões a respeito de si mesmo, variadas e contrarias entre si. Numas muitas vezes se exalta como norma absoluta. Noutras deprime-se até o desespero.” (Gaudium et Spes; Const. Past. n. 12)
As Sagradas Escrituras revelam que “Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança’. E Deus criou o homem; à imagem de Deus ele o criou; homem e mulher. E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo era muito bom.” (Gn 1,26-27,31). Embora não se pense o bastante no ser humano, percebe-se a sua grandeza e a sua pequenez nestas passagens da Escritura. O homem embora feito do pó da terra recebe do amor de Deus, a graça de ser criado à sua imagem e semelhança, de ser feito “um pouco inferior a um ser divino, e coroado de glória e honra” (Sl 8, 6). Esta é a sua grandeza ser imagem de Deus, ser o visível do invisível. Mas apesar de ter sido feito semelhante a Ele continua sendo uma de suas criaturas, é ainda pó e disto não pode esquecer “por isto lembra-te que és pó e ao pó ás de voltar” (Gn  3,19). No fim de sua criação Deus afirma que tudo “que criou era muito bom” (Gn 1,31), de fato as criaturas são belas e boas, mas “porque Ele é belo, elas são belas; porque Ele é bom, elas são boas; porque Ele existe, elas existem. Não são tão formosas, nem tão boas, nem existem do mesmo modo que, seu Criador. Comparados, nem são belas nem são boas nem existem.” (Agostinho de Hipona; Confissões, Livro, XI; cap. IV)

O homem é o tesouro de Deus, pois, para ele criou tudo, “para que ele domine os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra.” (Gn 1, 26) deu-lhe consciência, inteligência, emoções. Deus o criou não por interesse, mas por que devido ser Ele o puro amor, (Deus é amor- 1Jo 4,8) o fez para amá-lo e ser amado, e o “amou tanto afim de dar seu filho único” (Jo 3,16) para redimi-lo do terrível pecado. É por conta desta preferência de Deus pelo o homem que podemos nos indagar: “O que o é homem, para que te lembres dele, e o ser humano, para que dele te ocupes?”(Sl 8, 4)“Ele é a grande e admirável figura viva, mais precioso aos olhos de Deus do que toda a criação: é para ele que existem o céu e a terra e o mar e a totalidade da criação, e é a salvação dele que Deus atribuiu tanta importância que nem sequer poupou seu Filho único em seu favor. Pois Deus não cessou de tudo empreender para fazer o homem subir até ele e fazê-lo sentar-se à sua direita” (Catecismo da Igreja Católica; §358)
O Pecado
O relato do livro do Genesis nos mostra a desobediência do primeiro casal, quando este ouvindo a voz da serpente comeu o fruto da arvore a qual Deus lhe tinha proibido comer, fazendo com que a desgraça do pecado e da morte entrasse no mundo, porquetendo voltado da contemplação de Deus para o mal que eles próprios inventaram, caíram inevitavelmente sob a lei da morte. Em vez de permanecerem no estado em que Deus os havia criado, entraram em um  processo  de  uma  completa  degeneração e  a morte  os  tomou  inteiramente  sob  o  seu  domínio” (Atanásio; A criação e a queda). E por esta desobediência toda a humanidade foi afetada, tornando-se pecadora. Mas “de que maneira o pecado de Adão se tornou o pecado de todos os seus descendentes? O gênero humano inteiro é em Adão como um só corpo de um só homem.”( Catecismo da Igreja Católica, §40) “Neste pecado, o homem preferiu a si mesmo a Deus, e com isso menosprezou a Deus: optou por si mesmo contra Deus, contrariando as exigências de seu estado de criatura e consequentemente de seu próprio bem. Constituído em um estado de santidade, o homem estava destinado a ser ‘divinizado’ por Deus na glória. Pela sedução do diabo, quis ser como Deus (Gn 3,5), mas sem Deus, e antepondo-se a Deus, e não segundo Deus.”( Máximo, confessor; Ambiguorum liber., PG 91, 115bC; §398) Uma criança que sofre um corte profundo, e por toda a sua vida carrega a cicatriz daquele triste fato, assim, o primeiro o homem pecou, e toda a humanidade traz em si esta terrível cicatriz. Por isso “o pecado diminuiu o próprio homem impedindo-o de conseguir a plenitude.”(Gaudium et Spes; Const. Past. n. 13)
Esta tentação de quere ser como Deus o homem carregou por toda a sua historia, de fato “a tentação de substituir-se a Deus como decisão autônoma que prescinde das leis morais e leva o homem moderno ao risco de reduzir a terra a um deserto, a pessoa a um autômato, a convivência humana a uma coletivização planificada, introduzindo não raro a morte lá onde Deus quer vida.” (Radio mensagem, João Paulo I; 27/08/1978 )
“A realidade do pecado só se entende à luz da revelação divina. Somos tentados a explica-lo unicamente como uma falta de crescimento, como uma fraqueza psicológica, um erro etc. Somente à luz do desígnio de Deus sobre o homem compreende-se que o pecado é um abuso da liberdade que Deus dá às pessoas criadas para que possam amá-lo e amar-se mutuamente”(Catecismo da Igreja Católica, §386), “somente tendo como fundo a relação instaurada com Deus mediante a fé torna-se compreensível a realidade do pecado. À luz dessa relação podemos, pois, desenvolver e aprofundar esta compreensão. Não se pode apresentar a verdade sobre o pecado original a não ser voltando ao ‘princípio’. Em certo sentido também o pecado atual, se torna plenamente compreensível em referencia a esse pecado do primeiro homem” (João Paulo II Pp, catequese de 29/10/1986, n. 2).
O fato é que, “o pecado não existe nele mesmo. O que existem são pessoas pecadoras, que alimentam estruturas de pecado. Ele não se confunde com simples atos; mas aponta mais para atitudes que desumanizam a si próprio e aos outros. Desvirtuando as aspirações mais profundas dos seres humanos.” (Frei Antônio Moser, OFM)
A realidade do pecado foi adquirido pela escolha do homem, da sua escolha errada, dado que, “no princípio, Deus criou o gênero humano racional, capaz de escolher a verdade e praticar o  bem, de modo que não existe homem que tenha desculpa diante de Deus, pois todos foram  criados  racionais  e  capazes  de  contemplar  a  verdade”. (Justino; Apologia; n. 28)
Dignidade e valor de sua vida
“Por ser imagem de Deus, o individuo humano tem a dignidade de pessoa: ele não é alguma coisa, mas alguém” (Catecismo da Igreja Católica; §357) “A razão mais sublime da dignidade do homem consiste na sua vocação à união com Deus. É desde o começo da sua existência que o homem é convidado a dialogar com Deus: pois, se existe, é só porque, criado por Deus por amor, é por Ele por amor constantemente conservado; nem pode viver plenamente segundo a verdade, se não reconhecer livremente esse amor e se entregar ao seu Criador.” (Gaudium et Spes; Const. Past. n. 19), e este dialogo estreita-se de forma incrível quando o homem, reconhecendo a Cristo, percebe que pelo divino Filho recebeu a filiação divina, e que seu fim não é este mundo; porém “no mundo moderno há tendência para reduzir o homem unicamente à dimensão horizontal”(João Paulo II, Redemptoris Missio, Carta enc. n.8), por conta disto esquece-se que “o homem é chamado a uma plenitude de vida que se estende muita para além de sua existência terrena, porque consiste na participação da própria vida de Deus.” (João Paulo II, Evangelium Vitae. Carta enc. n. 2)
“O dom da vida que Deus Criador e Pai confiou ao homem, exige que este tome consciência do seu valor inestimável e assuma a responsabilidade do mesmo.” (Instrução sobre o respeito à vida humana nascente e a dignidade da procriação; Congregação para doutrina da fé, 22/02/1987, n. 1). “Ela é confiada ao homem como um tesouro que não pode depreciar, como um talento que há-de pôr a render. Dela terá de prestar contas ao seu Senhor.” (João Paulo II, Evangelium Vitae. Carta enc. n.52). “Desde o momento da concepção, a vida de todo ser humano deve ser respeitada de modo absoluto, porque o homem é, na terra, a única criatura que Deus ‘quis em si mesma’, e a alma espiritual de cada um dos homens é ‘imediatamente criada’ por Deus; todo o seu ser traz a imagem do Criador.”(Instr. sobre o respeito à vida humana nascente e a dignidade da procriação; Congr. para doutrina da fé, 22/02/1987,n. 5)
 “A cultura atual tende a propor estilos de ser e viver contrários à natureza e dignidade do ser humano. O impacto dominante dos ídolos do poder, da riqueza e do prazer efêmero se transformaram, acima do valor da pessoa, em norma máxima de funcionamento e em critério decisivo na organização social. Diante dessa realidade, anunciamos, uma vez mais, o valor supremo de cada homem e de cada mulher. Na verdade, o Criador, ao colocar a serviço do ser humano tudo o que foi criado, manifesta a dignidade da pessoa humana e convida a respeitá-la (cf. Gn 1,26-30).” (Documento de Aparecida. §387) já que “a vida humana é sagrada por que desde o seu inicio comporta ‘a ação criadora de Deus’ e permanece para sempre em uma relação especial com o Criador seu único fim.”(Instrução sobre o respeito à vida humana nascente e a dignidade da procriação; Congregação para doutrina da fé, 22/02/1987, n. 5).
“A vida humana atravessa situações de grande fragilidade, quer ao entrar no mundo, quer quando sai do tempo para ir ancorar-se na eternidade. Na Palavra de Deus, encontramos numerosos apelos ao cuidado e respeito pela vida, sobretudo quando esta aparece ameaçada pela doença e pela velhice.” (João Paulo II, Evangelium Vitae. Carta enc. n.44). E é por conta desta mesma Sacra Escritura que se é chamado, não somente a pensar ou contemplar a vida humana, mas respeitá-la, defende-la e tomar consciência de sua inviolabilidade e alta dignidade perante o mundo e o próprio Deus criador.




Por Bruno Rodrigues de Sales

Nenhum comentário:

Postar um comentário